Um Conto de Natal
- Natacha Soares Ribeiro

- 19 de dez.
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de dez.
Numa cidade onde era comum ouvirem-se os comentários e intrigas que as pessoas faziam entre si, surgiu um estranho fenómeno que a todos chamou a atenção. Não provocava luzes misteriosas nem ruídos estranhos. O fenómeno era silencioso, porém transformador: sempre que alguém mudava a sua atitude para melhor, essa mudança refletia-se imediatamente noutra pessoa, como se a bondade fosse contagiosa.

Acontecimentos inusitados transformaram a cidade por completo. Mas, na verdade, não tinha nada de mágico. Era apenas a prova viva de que a mudança começa sempre por nós — e quando damos o primeiro passo, abrimos caminho para que outros também o façam.
Como naquele momento em que uma menina na escola dividiu o seu lanche com um colega e logo a professora, habitualmente de ar cansado e até desinteressado, pareceu redescobrir em si uma missão de vida que ultrapassava o ensino de letras e números. Ou quando aquele jovem de ar rebelde e normalmente alheado do mundo, foi recebido com um sorriso pelo motorista habitual do habitual autocarro... e deu por si a ceder o lugar onde sempre se sentava a um passageiro idoso - algo que nunca fizera!
E assim, naquela cidade outrora marcada por comentários pouco simpáticos e intrigas, começou a erguer-se um novo espírito, caloroso e quente, como um aconchego em pleno inverno. As pessoas davam por si a notar pequenos gestos, nunca, antes, vistos por ali — um cumprimento sincero, a cedência de lugar, a partilha, o apoio, a interajuda — e esses gestos despertavam nelas uma vontade inesperada de também fazer melhor.
Era como se cada gesto positivo fosse um fio luminoso, puxando outro, e outro, tecendo uma rede invisível que ligava toda a vila. Os moradores começaram a reparar: um idoso, que raramente sorria, passou a cumprimentar toda a gente ao ver o jovem que o ajudou na mercearia; uma mãe impaciente com o filho, tornou-se mais paciente após ser acolhida por uma vizinha num dia difícil; um comerciante rabugento amoleceu depois de receber um elogio inesperado de um cliente.
Cada ato de bondade acendia, silenciosamente, uma luz no coração de alguém, luz essa que se propagava sem esforço, iluminando ruas, casas e, sobretudo, consciências. E naquele Natal, muitos compreenderam que o verdadeiro milagre não vinha do céu, mas nascia dentro de cada um, sempre que escolhiam ser a mudança que desejavam ver no mundo.
Na noite em que as luzes de Natal se acenderam pela primeira vez, a cidade pareceu parar e respirar ao mesmo ritmo. Como se alguém tivesse dado um sinal invisível, vizinhos de todas as idades foram saindo de casa e reunindo-se na praça, adultos e crianças, como uma grande família. As crianças corriam de um lado para o outro, felizes, enfiadas nos seus gorros e luvas, a inventar jogos entre gargalhadas e brilhos nos olhos.
E, a páginas tantas, começou a nevar. Primeiro devagar, como quem não quer incomodar… depois com mais confiança, cobrindo a praça de pequenos pontos de luz branca. A alegria foi tanta — tão pura, tão inesperada — que as pessoas se olharam como se estivessem a reconhecer-se de novo. E então aconteceu: sem ninguém combinar, sem ninguém mandar, abraçaram-se. Um abraço aqui, outro ali… até que a praça inteira pareceu um só abraço, largo e quente, em pleno frio.
Naquele instante, ficou claro para todos: quando a bondade se espalha, a comunidade deixa de ser apenas um conjunto de casas. Torna-se lar.
Mariana, uma jovem que estudava numa outra cidade, regressou a casa após um ano de ausência. Sentia muitas saudades dos pais, mas receava sempre estas visitas - os encontros em família costumavam acabar em discussões e amuos. Todas as noites rezava para que a paz regressasse ao seu lar. Mas, no fundo, não acreditava que isso viesse a acontecer. No dia do regresso, os pais e os irmãos mais novos foram recebê-la à estação de comboio. Abraçaram-na com alegria, calor e uma luz nos olhos que ela há muito tempo não via.
E o mais espantoso é que reconheceu essa mesma luz noutras pessoas com que se cruzou: o carteiro, que tinha prolongado a sua ronda para ler uma carta a uma senhora velhinha, o senhor do quiosque, que conversava afável e divertidamente com dois clientes sobre as notícias do dia, a até as crianças que brincavam à apanhada no adro da igreja, onde a árvore da Natal, lindamente decorada, protegia um presépio encantador. Estarei a sonhar? Pensou Mariana. Se é um sonho, quero permanecer nele por muito, muito tempo!...
Mas, não, não era um sonho… Cada dia que passava, um novo habitante aprendia que o mundo muda na exata medida em que mudamos as nossas atitudes e que, às vezes, basta um gesto para iluminar o dia de alguém… o nosso dia. Tal como Ana, chefe rigorosa e pouco flexível para com a sua colaboradora Sofia, que chegava algumas vezes atrasada porque precisava de levar a filha pequena ao médico. Ana, cansada da situação, já pensava em descontar do salário ou aplicar uma advertência. Mas em vez disso, chamou Sofia com calma e pela primeira vez, ouviu-a verdadeiramente. Sofia explicou a rotina, a preocupação com a filha e o medo constante de dececionar a chefe. As duas conversaram e encontraram juntas uma solução justa: horários flexíveis em dias de imprevistos, com compensação equilibrada nas horas seguintes. Naquele instante, Ana sentiu o coração mais leve e descobriu que a flexibilidade não diminuía a sua autoridade — aumentava a sua humanidade.
Colocar-se no lugar do outro e perceber as razões que o levam a agir de certa forma é uma preciosa capacidade para enriquecer os nossos relacionamentos. Essa capacidade, a empatia, abre caminho para a tolerância, a aceitação do outro, o reconhecimento de que todos somos diferentes, mas iguais na vontade de construir vidas com significado.
A empatia ajusta os nossos comportamentos, relativiza as nossas perceções, abre novas perspetivas para aquilo que vemos no dia-a-dia. E tem o potencial de contagiar outras pessoas... Neste Natal, vamos dar um pouco mais de espaço a esta luz, em cada uma das nossas ações?
Autoria: Menssana Dream Team: Solange Melo, Maria Jesus Fonseca, Irene Martins e Natacha Soares Ribeiro
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Desejamos um Natal pleno de luz e presença! 🌿💙








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