Ser Gentil está fora de Moda?
- Natacha Soares Ribeiro

- 16 de nov.
- 4 min de leitura
Atualizado: 17 de nov.
À primeira vista, parece que sim. Ligamos a televisão e vemos conflitos, discurso agressivo, polarização. Abrimos as redes sociais e encontramos comentários ácidos, cancelamentos rápidos, pouca escuta e muita reação. Saímos à rua e tropeçamos em buzinas impacientes, respostas bruscas, pessoas cansadas, com o coração em modo de “defesa permanente”.
Perante este cenário, pode surgir a pergunta desconfortável: ser gentil está fora de moda?

Há frases que ouvimos muitas vezes:
“Se fores bom demais, abusam de ti.”
“O mundo não é para os bonzinhos.”
“Hoje só sobrevive é quem é duro.”
Estas ideias acabam por criar a sensação de que gentileza é sinónimo de fraqueza, algo ingénuo, quase infantil — bonito na teoria, pouco “funcional” na prática.
E, na verdade, há sinais que parecem reforçar isto:
Em muitos contextos profissionais, é valorizada a produtividade acima da relação.
Na política, o discurso agressivo ganha mais visibilidade do que a postura dialogante.
Nas redes, o tom irónico, sarcástico e crítico gera mais cliques do que o cuidado e a nuance.
Não admira que, perante tudo isto, a gentileza possa parecer “fora de época” — como se pertencesse a um tempo mais simples, que já não existe. Mas… será mesmo assim?
A verdade: a gentileza não é moda, é natureza
Se olharmos um pouco mais fundo, percebemos que a gentileza não é um acessório social que usamos quando convém e tiramos quando não dá jeito. A gentileza está ligada àquilo que temos de mais essencial: a nossa humanidade.
Do ponto de vista psicológico e biológico, o cérebro humano é profundamente relacional. Somos feitos para cooperar, para viver em grupo, para cuidar e ser cuidados. A empatia, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, está inscrita na nossa arquitetura emocional.
Podemos ter criado sistemas, ritmos e estilos de vida que muitas vezes nos afastam desta essência — mas ela continua lá.
Ser gentil não é estar “na moda”. Ser gentil é estar alinhado com o que somos.
Gentileza não é fraqueza — é força consciente
Confundimos, muitas vezes, gentileza com submissão. Mas ser gentil não significa “engolir tudo”, dizer que sim a tudo, não ter limites ou deixar que os outros nos desrespeitem.
A verdadeira gentileza é:
Falar com respeito, mesmo quando discordamos.
Colocar limites com firmeza, mas sem agressão.
Escolher palavras que não humilhem.
Ter a coragem de ser humano num mundo que muitas vezes nos convida a ser “máquina”.
É preciso força interior para:
respirar fundo antes de reagir,
escutar genuinamente quem pensa diferente,
responder com clareza e respeito em vez de ataque automático.
Ser gentil não é o caminho mais fácil. É o caminho mais consciente.
A gentileza transforma mais do que parece
Um gesto de gentileza pode parecer insignificante: um sorriso, uma cedência no trânsito, uma mensagem de agradecimento, um “como estás?” com interesse real em ouvir a resposta.
Mas, na realidade, a gentileza é profundamente transformadora:
Muda a experiência de quem a recebe — um dia pesado pode ficar mais leve.
Muda a energia de quem a oferece — o coração expande, o corpo relaxa.
Muda, pouco a pouco, a cultura dos espaços onde estamos — famílias, equipas, comunidades.
A gentileza é um daqueles atos discretos que quase nunca vão às notícias, mas que sustentam o tecido emocional do mundo.
Sem gentileza, o que nos sobra? Competição vazia, suspeita constante, relações frágeis, medo. Com gentileza, mesmo no meio do caos, lembramo-nos de que não estamos sozinhos.
Mas… e quando o mundo não devolve?
É natural a pergunta: “E se eu for gentil e do outro lado encontrar arrogância, frieza ou abuso?”
Aqui é importante fazer uma distinção:
Gentileza não dispensa limites. Podemos ser gentis e, ao mesmo tempo, dizer “não”, afastar-nos de relações destrutivas, não tolerar desrespeito.
Gentileza não é moeda de troca. Não é algo que fazemos “para ver se o outro muda”, mas uma expressão de quem escolhemos ser.
Ser gentil não significa aguentar tudo. Significa escolher não nos tornarmos aquilo que nos fere.
Há situações em que o gesto mais gentil para conosco — e até para o mundo — é sair de cenários que nos diminuem, procurar ajuda, reconstruir um caminho a partir do amor-próprio.
Gentileza e Paz: duas faces da mesma escolha
No contexto do desafio Ser a Paz que Transforma o Mundo, a gentileza é uma das formas mais concretas de paz em ação:
Quando escolhes não elevar o tom numa discussão, estás a criar paz.
Quando decides ouvir antes de responder, estás a criar paz.
Quando valorizas o esforço de alguém, em vez de apenas criticar o que falta, estás a criar paz.
A paz não começa em tratados internacionais, começa em pequenas escolhas diárias. A gentileza é uma dessas escolhas.
Podemos viver numa sociedade acelerada, cansada e por vezes agressiva. Mas isso não apaga a verdade profunda: cada vez que optas pela gentileza, estás a alinhar-te com o que de mais saudável existe em ti — e a oferecer ao mundo aquilo que ele mais precisa, mesmo que ainda não saiba.
Ser gentil está fora de moda?
Se olharmos para a superfície, talvez pareça que sim. Contudo, se escutarmos com atenção o que o mundo pede — nas crises, na solidão, na ansiedade, nos conflitos — percebemos que a gentileza nunca foi tão necessária.
A moda é passageira - o que hoje é tendência, amanhã cai em desuso.
A gentileza, não. A gentileza é da ordem do permanente. É a humanidade em ação.
E talvez a verdadeira revolução silenciosa seja esta: num mundo que valoriza o “parecer”, escolher, com convicção, ser gentil.
Um convite Menssana
Deixo-te algumas perguntas para levares contigo:
Em que momentos do teu dia te é mais difícil ser gentil?
O que sentes em ti, no teu corpo, quando alguém te trata com gentileza verdadeira?
Que pequeno gesto de gentileza podes oferecer hoje — a ti e a outra pessoa?
Se quiseres caminhar conosco neste tema, a Menssana (www.menssana.pt) está a construir caminhos para integrar mais paz, presença e humanidade no dia a dia — através de desafios, conteúdos, programas e comunidades que acreditam que transformar o mundo começa dentro de cada um de nós.
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Porque, mesmo quando parece fora de moda, ser gentil é uma das escolhas mais necessárias, revolucionárias e profundamente humanas que podemos escolher. 🌿💙








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